sexta-feira, 12 de julho de 2013

A Origem de "O Mestre Que Nada Sabe"

Certa noite, durante um sonho, eu estava diante de uma jovem bruxa. Ela era simpática e bela. Tinha uma baixa estatura (embora eu não pudesse vê-la de pé por estar sentada diante de mim, com pernas cruzadas e na mesma posição que eu estava em frente a ela). Ela esboçou um sorriso e me disse “Você é o mestre que nada sabe...”. E eu dei uma gargalhada. 

Eu acordei pensando no aspecto cômico daquele sonho. Afinal eu sentia um certo orgulho por ser um mago, mesmo que iniciante e, pensando bem, eu realmente nada sabia, e quanto menos deveria ter a pretensão de tornar-me um mestre em alguma coisa... Mas, ironias à parte, eu não podia deixar de achar graça de mim mesmo naquele sonho. O que eu não entendi naquele momento é que, por mais que me parecesse estranho ser chamado dessa forma (“O Mestre Que Nada Sabe”, convenhamos, não é muito elegante), aquela bruxinha simpática em meu sonho havia me dado um nome (que seria o primeiro de três que eu receberia com o passar dos anos, em condições semelhantes). Explico aqui que, nesse contexto, um nome representa um atributo que é associado a quem o recebe. É algo que atrai influências de um certo tipo para que se manifestem cada vez mais na vida de uma pessoa (tornando gradualmente real aquilo que é potencial). 

Tendo vivido a experiência com Choronzon, eu começava a explorar o que estava além de meu ego, mas eu estava ainda muito próximo (do ego). A linguagem que eu percebia nestas primeiras interações era ainda condicionada à minha própria forma de expressão e aos meus próprios símbolos. Então este nome acabou sendo formulado em termos familiares e não em grego, ou em outra língua mais erudita. 

É importante mencionar que tais nomes não necessitam ser únicos. O que eles precisam ser é simbólicos. Precisam conectá-lo a alguma coisa (algo que tenha ressonância com você) e, nesse sentido, a atribuição de um nome é um ato mágico que irá produzir resultados a partir dali (iniciando seu efeito de forma imediata), como uma semente plantada na terra fértil. Por ser simbólico, mais de uma pessoa (ou mais de um ser) podem eventualmente possuir um nome em comum (o que significa que possuem papéis semelhantes dentro de um círculo). Assim, quando um nome é atribuído em um sonho, ele constitui uma espécie de marca que acrescenta um significado a quem a possui. Um nome deste tipo não identifica alguém como indivíduo, e sim como parte de algo. 

A atribuição de um nome constitui um tipo de iniciação. Digo isso porque, com o passar do tempo, podem ocorrer diversas iniciações. O encontro com o Sagrado Anjo Guardião (veja o post Falando de Minha Própria Iniciação na Magia) foi minha iniciação mais importante, a qual me impulsionou de encontro ao meu inconsciente (confira aqui os posts a respeito de minha experiência com Choronzon: http://www.omestreqnadasabe.blogspot.com.br/search/label/Choronzon).
Mas o inconsciente é plural, com uma infinidade de possibilidades, e as iniciações ajudam a definir como alguém se integra com estas possibilidades. 

Porém o que significa “O Mestre Que Nada Sabe”? Eu acredito que parte do motivo de ser este o nome que foi sugerido vem de minha admiração pessoal pelo filósofo Sócrates, o qual se destacou não tanto por possuir respostas prontas, mas por sua sinceridade e perspicácia em fazer perguntas. "Só sei que nada sei" era seu lema. Na verdade, em virtude de eu admirá-lo como modelo, a atitude de perturbar as pessoas com perguntas e questionamentos sempre foi um traço meu (isso é particularmente visível nos primeiros posts de meu blog). 

Existe também uma vantagem no "Nada Saber" que é justamente não trazer consigo vícios antigos (ou preconceitos?) que dificultam o aprendizado. Assim pode-se estar aberto a ver o que quer que seja sem filtros que alterem a percepção, procurando perceber a realidade tal como é. Mas "Nada Saber" é algo que dificilmente combina com a palavra "Mestre", não é? 

Não me considero um mestre em qualquer que seja a especialidade. Na realidade eu sou um generalista ao invés de especialista (no post Amadurecendo na Forma de Buscar o Conhecimento eu faço uma referência a este perfil), de forma que percebo melhor as relações gerais do que os detalhes particulares de cada situação. O que eu realmente posso transmitir é minha própria história, e é nesse sentido que considero este “O Mestre Que Nada Sabe”. Explico: penso no mestre como aquele que comunica algo de si e que busca ajudar outros a se desenvolverem por seus próprios meios, e não como aquela pessoa que detém todo conhecimento. Não pretendo saber tudo, e sim oferecer algo meu, algo particular (minha história). Neste post estou abordando sobre minha própria identidade, e falando muito de mim mesmo, por assim dizer. Referir a si mesmo é algo inevitável às vezes, principalmente porque na magia as transformações são primeiramente internas (dizendo respeito ao que consideramos a identidade pessoal) e somente se tornam externas após o que é interno se desenvolver e ramificar-se. 

Sempre que um nome é atribuído em um sonho, ele precisa ser aceito (ou, pelo menos, não negado). Essa aceitação não precisa ser explícita (você não precisa dizer "Eu aceito") mas, para que lhe seja atribuído, você também não pode rejeitá-lo. Na realidade, basta um sorriso (ou algo igualmente sutil) para que essa aceitação ocorra, e essa atribuição é ainda mais forte se ambos os lados (tanto quem atribui o nome, quanto quem o recebe) manifestarem desejo nesse sentido. No meu caso, a jovem era simpática e demonstrava um sorriso, enquanto eu soltei uma gargalhada. A aceitação estava completada. Isso demonstra que este processo de aceitação é muito primitivo. Normalmente você apenas reage a uma situação sem saber que está agregando a si algo que terá implicações, mas é assim que acontece. Se você rejeita um nome, normalmente o sonho insiste em oferecer-lhe por um tempo, para que você tenha a chance de compreendê-lo e aceitá-lo. 

Quando receber um nome, o ideal é você não espalhá-lo pelo mundo afora (eu fiz exatamente o contrário, erro de principiante - a jovem bruxa, por exemplo, não revelou seu nome, nem tampouco Choronzon em meus contatos anteriores a este). Mas não me arrependi de ter exposto este nome (quem o atribuiu talvez já estivesse prevendo isso), tornando-se o nome que adotei como assinatura no mundo virtual. 

No próximo post vou abordar alguns fatos que ocorreram no que diz respeito à minha vida sentimental no mesmo período em que eu prosseguia nesta exploração do inconsciente (é importante sempre acompanhar o paralelo entre a realidade mágica e a realidade dos fatos concretos). 

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