sábado, 27 de julho de 2013

Primeiros Passos no Amor

Certa noite, durante uma viagem de ônibus de Curitiba para Londrina, eu conheci C. Nós nos encontramos absolutamente por acaso e conversamos a noite toda. Quando chegamos ao nosso destino, trocamos nossos telefones. Ela, da mesma forma que eu, ficaria apenas poucos dias ali. Eu estava surpreso pois todas as minhas inibições que me “impediam” de começar um relacionamento (veja o post Transformando a Vida Afetiva para saber mais sobre estas inibições) simplesmente desligaram-se naquela viagem. Eu apenas me expus da forma que realmente era e não houve rejeição alguma por parte dela. Nós nos encontramos e nos reconhecemos, mesmo considerando que jamais tivéssemos nos visto antes. Ocorreu assim uma troca simples e inquestionável de energia. Logo retornaríamos, porém cada um de nós embarcando em ônibus diferentes na volta. Mais alguns dias se passaram, combinamos de nos encontrar e, então, estávamos namorando.

Eu contei a ela que era a primeira vez que eu me relacionava com uma mulher. Eu queria impressioná-la da mesma forma que sentia que ela queria impressionar a mim. Eu não contei a ela sobre como havia me sentido culpado, durante boa parte de minha vida, em função de instintos eróticos que eu reprimia (também no meu post Transformando a Vida Afetiva). Contei sobre minha busca na magia mas evitei entrar em detalhes sobre as experiências que já havia vivido. Eu queria evitar o que poderia afastá-la, afinal era apenas o princípio. Não me parecia fazer sentido relacionar todos os meus “possíveis defeitos” naquele momento.

No entanto, o fato de eu omitir demonstrar aspectos da minha personalidade talvez tenha ajudado a princípio, mas a verdade é que não é possível simplesmente descartar (ou ignorar) algo de si. Não existe meio de jogar fora uma versão antiga de quem se era e substituir-se por um outro “Eu” (ideal?). Não é tão fácil excluir algo de si, uma vez que tenha sido colocado e enraizado em si próprio. O melhor a se fazer é acrescentar algo novo ao próprio jeito de ser, um terceiro elemento que diminua os conflitos interiores e que permita que a expressão total que abrange o ser humano seja cada vez mais harmoniosa e livre de culpas.

Em outras palavras, recorrendo ao exemplo do Médico e o Monstro (Dr Jekyll e Mr Hyde respectivamente): não se trata de isolar um lado e destruí-lo, e sim de somar ambos e criar um novo ser, onde as qualidades de um complementam os defeitos do outro. Escondendo o que havia dentro de mim, eu me mostrava como o bom médico Dr Jekyll e, por outro lado, ocultava Mr Hyde por não saber como poderia apresentá-lo à luz para que outros o pudessem conhecer.

Eu não tinha ainda maturidade para compreender estes conceitos. O que havia em mim (no que diz respeito ao amor, à sexualidade e ao erotismo) estava encontrando ressonâncias na realidade invisível da magia e estas ressonâncias haviam começado a se manifestar na realidade física (nos fatos concretos). O processo de cura (e este foi um processo de cura) implica na expressão de quem se é (não na ocultação), para só então se compreender esta expressão e refiná-la. Só que a maioria das pessoas começaram este tipo de experiências ainda jovens, enquanto eu estava começando aos 31 anos.

Ocultar um lado meu teve efeitos a longo prazo pois, embora eu tentasse dissimular, a magia teria sempre ação sobre todo meu ser e não apenas sobre parte de mim (isso ficou nítido em meu contato com o Sagrado Anjo Guardião, descrito no post Falando de Minha Própria Iniciação na Magia). O que estava oculto eventualmente se desenvolveria e se manifestaria. Inevitavelmente o que se escondia se tornaria claro e viriam recriminações às quais eu teria de dar respostas. Se eu tivesse exposto tudo isso já no princípio, não haveria o impacto da quebra das ilusões. Por outro lado, se eu tivesse agido com absoluta franqueza, talvez nenhum relacionamento tivesse tido sequência dali.

Fico pensando nos inúmeros casais que começam da mesma forma, com segredos ocultos, e com uma esperança de que tudo dê certo apesar de haver tanto escondido. Na realidade a grande maioria dos casais se separa por causa destes segredos. No entanto eu e C permanecemos juntos até hoje por mais doloridos que tenham sido alguns momentos que experimentamos.

Aquela velha frase “... na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza” - o tempo passou e ela se mostrou mais verdadeira que tudo o mais. Cada um de nós sempre apoiou o outro quando havia questões de saúde, ou nos momentos de dificuldade financeira e em outros momentos difíceis. Da mesma forma sempre soubemos partilhar juntos os bons momentos. Sempre nos preocupamos um com o outro, mesmo quando nossos pontos de vista divergiam, mesmo quando nossas noções de certo e errado (envolvendo moral, ética e religião) divergiam, e frequentemente ainda divergem.

Sempre tivemos nossos atritos mas, nos momentos em que um ou outro precisava de apoio, o outro sempre estava disposto a dar tudo de si. O meu relacionamento com C é algo que ainda estamos dando forma, mas eu suspeito que não é apenas dessa vida que nos conhecemos. Quando nos vimos, pela primeira vez, foi um reencontro. Eu acredito que havíamos esperado a vida inteira para que nos encontrássemos, mas ainda não compreendi totalmente o significado que nós dois temos juntos. É algo que quero descobrir.

O próximo post irá tratar de mudanças profissionais que estavam acontecendo no mesmo período que estou narrando.

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