quinta-feira, 18 de julho de 2013

Transformando a Vida Afetiva

Ter um relacionamento afetivo com uma pessoa de outro sexo (ou mesmo com uma pessoa do mesmo sexo, dependendo da identidade sexual de cada um) é algo usualmente normal, que eventualmente acontece de forma espontânea para a maior parte das pessoas. No entanto, há quem seja retraído de tal forma que não consegue expor-se à uma outra pessoa, como que sempre temendo uma possível rejeição. São pessoas em que a natureza relacionada ao amor e à sexualidade é constantemente auto-reprimida.

No que diz respeito a mim, eu fui uma destas pessoas até meus 31 anos de idade. Eu jamais havia namorado até então, ou “ficado”, ou beijado uma mulher. Embora eu não tenha certeza de porquê me desenvolvi dessa forma, eu suspeito que tenha sido por minha falta de habilidades sociais na infância (associada ao fato de ter sofrido bullying) que acabou causando esta sensação de inadequação em mim. A insegurança me levou a algumas poucas tentativas mal-sucedidas de aproximação em relação às mulheres na adolescência, em que eu me senti rejeitado e cada vez mais insatisfeito no que dizia respeito ao amor.

Quanto maior era meu sentimento de inadequação, piores eram minhas tentativas de tentar me expressar neste sentido e piores eram os resultados de cada tentativa. Houve um tempo em que eu me sentia envergonhado apenas por estar ao lado de uma mulher (literalmente não sabia onde enfiar minha própria cabeça, feito um avestruz). Isto se suavizou quando eu comecei a trabalhar e tinha mais contato com mulheres (a partir de então eu já não era mais tão tímido), mas eu ainda não tinha uma vida amorosa. Na realidade eu me apaixonava constantemente, mas eram todas paixões impossíveis (projeções de minhas próprias fantasias a respeito do que eu considerava que deveria ser o amor). Eu havia me declarado uma vez, mas de uma forma tão abrupta que não tinha como ter sucesso.

Eu fingia não me importar com assuntos relacionados ao amor e ao sexo, mas o fato é que eu fantasiava muito sobre estes assuntos. Para tentar compensar a falta de tudo isso na minha vida, eu comprava material pornográfico e tentava suprir o que me faltava (com esse material). Eu tinha muita vergonha de mim mesmo, por sentir impulsos que considerava sujos. Às vezes minha mente se permitia preencher por estes impulsos, e às vezes eu os reprimia completamente. Eu me sentia como aquela estória do Médico e o Monstro, como se houvesse dois lados de mim que lutavam um contra o outro.

Durante muitos anos eu me condenei por considerar-me um pecador em virtude de pensamentos e atos escondidos que julgava pecaminosos. As pessoas que conviviam comigo conheciam apenas o lado que aparentava ser frio no que diz respeito ao amor e à atração sexual (eu temia ainda mais a rejeição das pessoas próximas). Alguém chegou até mesmo a me dizer que não se interessaria por mim porque eu era frio e distante (bom para lidar com computadores, mas não para lidar com pessoas).

Tudo isso deixou marcas muito profundas dentro de mim. Era uma fome que não se saciava. Eu não sabia como me adequar a modelo algum. Havia aqueles que pregavam relacionamentos dentro de um padrão “tradicional”, por assim dizer, fundamentado principalmente em um amor “puro”, com o sexo após o casamento. Também havia aqueles que se entregavam à luxúria. E havia quem estivesse em relacionamentos abertos, ou outros tipos de relacionamentos. Todas estas possibilidades me atraíam, como que minha própria natureza tentasse se expressar por qualquer porta que eventualmente se abrisse, mas eu não me encaixava nestas opções. Nada daquilo funcionava comigo.

Tudo isso havia surgido diante de mim na minha experiência com Choronzon (este link relaciona todos os posts relacionados ao mesmo, porém o post mais específico ao que me refiro aqui é este), embora eu tenha preferido mencionar estes fatos agora, ao invés de encaixá-los anteriormente. Ter vivido sob esta condição deixou marcas muito profundas dentro de mim, marcas com as quais hoje me relaciono melhor, mas que ainda são presentes. Eu precisava viver um processo de cura, e esse processo de cura se iniciou junto com o começo da exploração do inconsciente. A partir dali eu viria a namorar, casar, ter filhos, e alcançaria muitas outras realizações (eu vou falar sobre cada um destes momentos conforme vou contando minha própria história).

Porém, de forma alguma estas realizações representam algum tipo de troféu (como se nesse processo de cura eu tivesse sido invicto). Eu cometi muitos erros e tropeços, da mesma forma que também acertei em alguns pontos. Talvez, ao ler este post, as pessoas se perguntem: “Porque ele escreveu isso? Porque contou algo tão pessoal? Porque não começou a contar a partir do momento em que a vida começou a mudar?”

A resposta é que eu pretendo ajudar pessoas com meu blog. Eu sei que há outros que vivem tudo isso que eu passei, com mais ou com menos intensidade. Se eu mostrasse apenas as realizações positivas, eu não teria exemplo algum a oferecer para quem vive problemas. Afinal um exemplo já é de utilidade limitada (por se aplicar à vida de uma pessoa específica), mas se torna mais limitado ainda quando omite informações sobre erros e falhas. Eu posso dizer também que muitos já viveram as realizações no que diz respeito a namorar, formar uma família, ter filhos, e estas pessoas sabem que, embora sejam realizações, há diversos erros que se comete entre elas. Eu quero que estas pessoas também se identifiquem comigo e assim eu possa ajudá-las também.

É evidente que há muita informação pessoal que não pode ser dita (certos nomes, por exemplo), pois o sigilo nem sempre pertence apenas a nós, mas também a outros que fazem parte de nossas vidas. Por isso, em certas situações, eu vou mencionar apenas iniciais dos nomes de algumas pessoas e, às vezes, eu vou mencionar certos fatos apenas de forma abstrata. De vez em quando vou caminhar em uma corda bamba.

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